sábado, 9 de maio de 2009

France en Colére


Após um primeiro de Maio inédito, no qual as 8 centrais sindicais francesas desfilaram, pela primeira vez, de braço dado, vive-se em França um clima de combate, de reivindicação, de luta até à vitória final. Nos mais variados sectores encontramos descontentamento e revolta, acompanhados de uma radicalização do movimento social.

Na saúde, contra a lei Bachelot, ministra do governo Sarkozy, o movimento das batas brancas, médicos, enfermeiros e auxiliares de saúde, insurge-se e apela à solidariedade de todos e todas com a sua luta pelo serviço público de saúde, e contra os hospitais-empresa, tendo-se manifestado cerca de 15 mil profissionais, 3ª feira passada, nas ruas de Paris.

Perante as ameaças e a concretização de despedimentos em várias empresas em França, trabalhadores e trabalhadoras unem-se e reinventam as formas de luta. Vários sequestros de patrões já se sucederam em França, com apoio das populações.

Chegada a 14ª semana de greve das Universidades em França, estudantes, professores, investigadores e os chamados BIATOSS (bibliotecários, engenheiros, administrativos, técnicos, operários e pessoal dos serviços e saúde, na versão francesa) permanecem em mais de 60 universidades francesas em greve. A Coordenação Nacional das Universidades (CNU), órgão criado especificamente para coordenar e organizar o movimento da greve, onde a grande maioria das universidades francesas se encontra representada por professores, estudantes e doutorandos, reuniu pela nona vez a semana passada, e volta a votar a continuação da greve, alertando para a absoluta irresponsabilidade do ministério do ensino superior, que insiste em ignorar olimpicamente, as inúmeras manifestações de toda a comunidade universitária em França. A verdade é que as acções se multiplicam: bloqueios das faculdades, impedindo por completo através de piquetes de greve o acesso às salas de aulas; as chamadas barragens filtrantes, que apenas dificultam o acesso empilhando, por exemplo, cadeiras e mesas em frente de salas de aulas; assembleias-gerais unitárias que acontecem semanalmente, com votação de moções, posteriormente enviadas para a CNU; manifestações semanais com uma afluência que ronda, em Paris, as 20 mil pessoas...Enfim, criatividade e imaginação não faltam ao movimento, ainda assim, a única resposta que nos surge do lado da direita francesa é tão-somente, por um lado uma proposta de lei dum deputado do UMP (partido de Sarkozy) Damien Meslot, na qual propõe sancionar em 1000 euros todos os estudantes e pessoas externas as universidade, que tentem impedir o acesso aos edifícios de um qualquer campus universitário, e por outro uma declaração na Assembleia Nacional, desta vez vinda da ministra do Ensino Superior, Valérie Pécresse, no sentido de haver deduções salariais a todos aqueles que retenham as notas dos estudantes, que se recusem a realizar exames ou que impeçam as aulas de compensação. A responsabilidade pela paralisação das universidades e pela possibilidade de cerca de 100.000 estudantes não verem o seu ano validado, é duma ministra que, com jeitos tatcherianos, fecha sistematicamente as portas da negociação.

A crise social em França está à vista de todos e de todas. Não se trata duma crise de valores, de falta de identidade, ou de outro qualquer epíteto de natureza mais filosófica. Trata-se sim da saturação mais profunda das populações, face ao absoluto desprezo dos governantes europeus, e do seu em particular. Por aqui luta-se pelo direito ao ensino público, pelo direito ao serviço de saúde público, pelo direito ao emprego. Por aqui assiste-se a um basta à política de caça aos serviços públicos.